sábado, julho 08, 2006

Livros (avec une grace calligraphiée)




Em livros me perco.
E com tantos livros me ocupo a ler... que me esqueço de escrever.

Por isso, como um filho pródigo, regressa este bloguista algo preguiçoso ao seu blog que parece andar mais lento que "la plus que lente" (que, diga-se de passagem, até para Adagio é um exagero).
Falemos então de livros, esses objectos, exóticos para alguns, que acompanham a nossa civilização desde que esta desejou ser imortal.
Não falarei do que está escrito... deixarei isso para outra altura ou outro post. Gostava, hoje, de falar apenas sobre os livros, o objecto, o papel, a sua importância... pelo menos aquela que eu penso que têm.
Sempre me transmitiram uma estranha sensação de eternidade, os livros. Apesar de, segundo me disseram, a esperança média de vida do papel de um livro ser pouco mais que 100 anos, sempre vi os livros como pensamentos capturados no papel para não mais se perderem; pequenas pedaços de uma alma convertidos em eternidade.
Casa ou prisão das palavras, os livros sempre ocuparam uma pequena totalidade da minha vida e da minha mente. Quer sejam frívolos romances, pesados ensaios, grossos manuais, bucólicos poemas... livros são e por isso permanecem, eles e as suas palavras.
E também devo aqui confessar que, para mim, os livros são também uma forma de puro narcisismo intelectual. Nos livros o ser humano projecta as suas palavras para além da sua voz... sempre serão mais os leitores do que os ouvintes. Nos livros, o homem permanece mesmo que o seu corpo se dissipe na triste alquimia da vida e da morte... a palavras sempre tiveram uma maior capacidade de preservação do que a carne. E também nos livros, o homem pode esconder os seus mais preciosos sonhos e ideias da corrente do esquecimento a que nós todos estamos condenados.
Como pequenas pedras que vão ao fundo e não se deixam levar pela fluidez das águas do tempo... os livros são coisas deveras extraordinárias. Por isso os amo e por isso não posso evitar uma certa poesia (algo exagerada, devo admitir) quando me refiro a eles.
Outra coisa que me espanta nos livros é a sua capacidade de reprodução: quando se escreve um livro, este se converte numa criatura dotada de um tipo especial de vida e , logo, de um tipo especial de instinto de sobrevivência. Muitos são os livros que depois de serem lidos resultam em mais livros (o que leva à questão milenar: Ecritor ou leitor... o que veio primeiro?). Outros, não querendo permanecer limitados pelo vernáculo se traduzem e se espalham pelos quatro cantos (e tantas línguas) do mundo. Alguns até chegam a ser escritos mais do que uma vez de forma a conservar as palavras... reeditam-se, logo, permanecem (se um livro vive 100 anos quantos anos vivem 10 ou 20 livros?).
E no entanto... é tão fácil queimar papel. Reduzir a glória de uma Ilíada a cinzas demora muito menos tempo do que levou a que fosse escrita. Com tanta facilidade se rasga um livro... com tanta facilidade se rasga um pequeno pedaço de história ou de alma. Custa por vezes pensar quanto se perdeu com cada livro que se extingue.
É neste estranho paradoxo de um livro que move mentes mas que se reduz a um simples combustível que se encontra, para mim, uma das mais belas facetas de um livro: a sua humanidade. Tão frágil e extraordinário... um livro é em grande parte como o seu escritor que por muito valor que tenha se reduz à sua condição... facilmente perecível. Afinal de contas, o homem fez o livro, não necessariamente à sua imagem mas, pelo menos, à sua letra.
Ah! Mas já me perco!
Deixo-me de escritas por agora. Regresso ao sadio (e, por vezes, nem tanto) hábito de leitura pois, se continuasse a escrever... que livro isto daria.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Belo poema!;)

12:46 da manhã  

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