sábado, outubro 21, 2006

Quase elegia (Petite chanson pour un été passé)



Já caídas estão as primeiras folhas; memórias apenas de uma verdura que antes quase chegava a cegar. Os céus cobriram-se no mais sinistro dos tecidos e o sol perdeu a coragem de vir à rua por demasiado tempo. A lua... essa, branca e subtil, desfruta dos prazeres de uma noite cada vez mais longa.
Era Verão ainda ontem.
Lembro-me... um cheiro a resina no ar e vespas fervilhando entre a relva. Era Verão... que lhe aconteceu? Que aconteceu aos corpos apenas vestidos de água e sal? Que aconteceu a esses dias que de tão longos até aborreciam... cansavam mesmo?
Era Verão... lembro-me.
Chove... mas não me molho. Desde quando trago um chapéu de chuva comigo? Pesado, o ar sufoca neste mar de gotas e fumos... tenta tossir mas não quer.
O sol cai mais uma vez... já?
Escurecidos, os céus escolhem um tom mais escuro para acomodar essas pequenas chamas que apenas dão luz (que já de si é pouca). A lua brilha... como ela gosta de brilhar, olhem para aquele sorriso rasgado.
Frio... deste já me tinha esquecido, admito. Mas não gela o suficiente... não sei o que sentir; arrepios ou suores. Suponho que ainda não seja Inverno. Então porque não é Verão?
Esta estação não existe.
Mais folhas caiem como que querendo esconder o corpo putrefacto de suas irmãs. Amanhã vai chover, avisaram-me.
Sono... que horas são? Ah... nem me dei conta.
De uma parede fria de vidro vejo o rio... será que ainda há peixes nele?
Não sei que dia é amanhã... mas, para Abril penso que ainda falta um pouco.

...

Boa noite?

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Parabéns Nuno… Contra tudo o que costumo fazer aqui estou eu a comentar um os teus posts. A tua descrição de Outono, foi para mim como ler uma metáfora de como vivemos entre a felicidade, o Verão, e a acalmia melancólica do Inverno que nos faz pensar… E confesso que ao ler o post fui obrigada a pensar; fui através da tua escrita obrigada a importar-me com os estados de espírito dos que me rodeiam, do definhar da própria natureza e com o definhar da felicidade também… Por todas estas sensações que estava a precisar de sentir, obrigada pelo post… continua a escrever que há sempre pessoas que devoram o que escreves…

Bjsssssssssssssssssssss

10:40 da tarde  
Blogger Pedro said...

É sempre bom vir aqui ler mais uma das tuas miniaturas! Num estilo bem original (já sabes q n é o meu :P) aqui deixas outra pequena impressão (desta vez "pequena" mesmo) que nem por isso evoca poucas sensações... e é muito bom ver q vais trabalhando cada vez melhor c esses pincéis q usas p pintar os teus quadros do quotidiano. Desta vez nos melhores tons de castanho...

10:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Pequena correcção: "Mais folhas caiem" devia ser "Mais folhas caem".

11:22 da tarde  

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