Ressonâncias (breve allegro por tudo e por nada)
Ressoa!
Sinto em mim uma força que pulsa e soa. Um som que sempre esteve dentro de mim mas que só agora decido escutar.
O que é este som?
Porque o oiço?
Não o ouvem também?
Todos o ouvimos. Fechamos os olhos e concentramo-nos... e não importa o que nos rodeia mas o som aparece. Brotando de nós e por nós... primeiro como uma fonte escondida, num lugar em que tudo é verde e fresco; depois cresce e já não é fonte... é rio, é lago, é mar, é oceano, é terra, é tudo.. sou eu! Enconto-me nesse som que ecoa nas minhas veias... sorriu... oiço esse som tão claramente em mim.
Não sei o que esse som é. Ou melhor, sei mas não consigo explicar a mim próprio. Sempre o soube mas nunca o entenderei... escutarei mas duvido que sequer venha a perceber. Mas não preciso de o compreender para o ouvir.. para o sentir.
É o som que murmura no meu coração, na minha pulsação... é loucura... é uma complicação, tão simples no fundo, que até fico aborrecido por me preocupar com tal coisa (mas também senão me preocupasse nem valeria a pena ter ouvidos). É estar vivo. É saber que vivo e que oiço e ressoo. É saber que me foi dada a chance de fazer eu próprio o meu som... grito a plenos pulmões e quebro o estático silêncio dos planaltos sem vida. Que pode um deserto contra a vida... um mar contra a vida... a morte contra a vida?
Oiçam-me!
Deixem-me ressoar e nestas ressonâncias vos mostrar a minha mensagem... mensagem que não é mais do que uma cacofonia sem nexo mas que tem de ser escutada. Oiçam este som e descubram (ou melhor... apercebam-se) que também têm um som igual (mas diferente) a pulsar dentro dos corpos que são os vossos instrumentos.
Sejamos intérpretes desta melodia tão breve a que chamamos a nossa existência.
A vida é música... quebra o silêncio frio das eternidades habitadas por nada. Somos música... cada célula canta. Contra a corrente do tempo que impõe a insubstancial perfeição de cristal, impomos o nosso andamento, a nossa melodia.
Não desistir... não parar... cantar e fazer-nos ouvir. Nem uma montanha durará tanto tempo como a nossa música.
Enlouqueço e canto!
Enlouqueço e escrevo!
Enlouqueço... e enloqueço os outros...
Que seja este som que eu oiço o eterno pulsar da vida que tantas formas tem como sons. Partilho esta sinfonia com todos... mas a minha melodia só eu a sei. E por isso a guardo para poder escutá-la quando quero.
Cantemos... o silêncio é assustador e a noite sua conselheira.
Cantemos... só nos resta isso.
E isso é tudo.
Ressonâncias... tudo ressonâncias...